Iya Senzaruban- Um Candomblé Vegetariano


Iya Senzaruban - Um Candomblé Vegetariano PDF Imprimir E-mail

Entrevistada por Léo Artese

Conheci Iya Senzaruban, em um dos encontros de Buscadores que participamos, na Praia do Gonzaga, no início dos anos 90. Nesta oportunidade fiz um ritual do fogo e ela conduziu uma celebração de Candomblé na praia.

Filha de Oya Igbalé, foi iniciada no Candomblé aos 7 anos, filha de um ekede e de um ogã. Tornou-se mãe-de-santo aos 14 anos (deká).

Ainda no início dos anos 90, começou a estudar medicinas alternativas como acupuntura, aromaterapia, moxabustão, até viver no Sri Lanka onde entrou no culto a Senhor Krsna e Senhor Shiva.

Iya Sensaruban é a única mãe-de-santo vegetariana (como eu), que conheço. Uma nova forma de reverenciar o Santo.

Foto direita (Iya Senzaruban e Cidão De Xangô)

Léo: Fale sobre sua trajetória até se tornar Yalorixá:

Iya Senzaruban: Bom, antes do meu nascimento, meu pai carnal, que era kardecista, recebeu uma mensagem alertando que ele iria ter uma filha que vinha com uma missão (ai até parece filme do Rambo rsrsrsrs) de trabalhar com o espiritual de uma forma diferente do que ele estava acostumado, que ele precisaria abrir caminho (ele era de Ogum) para quando ela(ou seja eu rsrsrs) nascesse ele já estivesse entrosado nesta nova forma. Isto foi uns 5 anos antes de eu nascer.

Meu pai era vendedor e andava pelo país inteiro e numa destas andanças conheceu aquele que viria ser meu futuro pai de santo o Tata Gilberto de Obaluaye, que tinha um terreiro de Nagô em Alagoas. Meu pai se entrozou tanto que veio a ser Ogã Axogun da casa e minha mãe, Ekede de Obaluaye.

Então quando nasci, já estava dentro rsrsrs...

Léo:Onde você foi raspada?

Fiz santo aos 7 anos de idade em plena ditadura militar (dureza!) vi meu pai de santo e meu pai carnal várias vezes serem presos. ô época! Peguei meu deká (que é como se fosse um diploma que te habilita a ser mãe ou pai de santo) com 14 anos de idade, mas como pessoa eu ainda era sem nenhum traquejo de vida... Mas mesmo assim fui indo. Quando meu pai-de santo do Nagô faleceu fiquei mais ou menos uns 8 anos sem direcionamento paternal. Aí conheci um pai de santo da nação de Angola, da família de Joãzinho da Goméia, Tata Zumzu do Azambi, e dei obrigação nesta Nação.

Léo: Como você vêr o atual movimento do Candomblé no Brasil?

Iya Senzaruban: Eu acho que graças a Olorun, as pessoas de candomblé hoje se preocupam mais em estudar profundamente o panteão africano. Pois por ser uma tradição oral, muita coisa estava perdida. Claro que existem os mais tradicionalistas que condenam as mudanças, mas com certeza tudo no planeta precisa evoluir, e evolução, não é, só vem com muita informação!

Léo:Os antigos Pais de Santo não gostam de revelar os segredos ( o Eró). Como você vê isto?

Iya Senzaruban: Como egoísmo puro! Ora, veja bem, se a pessoa tem a curiosidade tal que a leva a fazer perguntas, mesmo que aparentemente ela não esteje preparada ainda, com certeza um dia ela vai estar...

Existe um provérbio nagô cuja a tradução é a seguinte:

Quem pergunta, sabe! Pois é, seria muito egoísmo de minha parte não repartir o que eu sei para quem queira aprender. Se eu ensinar para uma pessoa ela vai ter chances de ir mais além do que eu, isto é um ótimo caminho para evolução, não acha não? rsrsrs Eu me considero uma multiplicadora, então meus filhos, meus netos, meus (ai ai ai me sinto tão velha! rsrsrs) bisnetos, meus amigos que são estudiosos, meus conhecidos, todos eles são minhas raízes e atingem pessoas em lugares que eu fisicamente não atinjo. Isto não é lindo? Eu acho...

Léo: Como você pode definir os Orixás?

Iya Senzaruban: Ah os orixás são forças da Natureza. A força bruta, não no sentido violento da palavra, e sim da pureza. São como diamantes não lapidados. E como tudo neste Planeta tem o seu lado Yin e o seu lado Yang para haver equilíbrio. O que o pessoal chama de lado positivo e lado negativo não mais do que isto. Agora como diamantes, quando lapidados pelos pais e mães de santo, podem reagir ao ser humano com mais ou menos misericórdia... Voce vê, o ser humano maltrata a Natureza, o que acontece, ela reage e maltrata o ser humano. Então os orixás que são forças da Natureza também faz isso. Se o filho trata bem a Natureza, o ser humano, os animais, plantas etc, com certeza o orixá vai tratá-lo bem. É tão matemático isso...

Léo: E os Eguns?

Iya Senzaruban: Ih! vou tentar ser resumida, pois por eu ser filha de Oya Igbalé, é um dos assuntos que mais me fascina! Egum, quando é cultuado, é alguém muito importante dentro da casa de Candomblé, um ancestral ilustre, e que dá conselhos e toma conta de tudo. O Balé (Egum) é essencial dentro de várias casas, na minha principalmente, pois minha Oya é uma herança de minha bisavô de santo, da família Nagô.

Agora existem espíritos que são chamados de eguns, que são sofredores, que gostam de atrapalhar a vida dos humanos, ou às vezes estão tão perdidos, que acham que estão ajudando... Aí é que entra Oya(Iansã), ela os despacha para os lugares pré-determinados e alguns ela os coloca debaixo de sua saia para ajudá-la.

Léo: E os kiumbas?

Iya Senzaruban: Os kiumbas são espíritos geralmente utilizados pela magia-negra, quimbanda, candomblé,umbanda, feitiçeiros, para prejudicar, infernizar e até mesmo matar pessoas. Sinceramente, estas pessoas usam deste artifício para obterem poder, que poder é este???? Acho simplesmente imoral, e de extrema ignorancia espiritual!! Pois além de prejudicar as pessoas, estes pseudos pais e mães de santo, prejudicam a evolução que estes pobres espíritos. Ah e a própria evolução! É ou não é burrice? rsrsrs

Léo: O que significa Vodúns?

Iya Senzaruban: Aqui no Brasil, graças alguns batalhadores a nação Jeje está sendo renascida, que cultua Voduns. São como os orixás são denominados nesta nação, assim como no Angola são conhecidos como Inkices.

Léo: Qual é a diferença de conceito entre o Exu do Candomblé e o da Umbanda?

Iya Senzaruban: Esta pergunta é ótima! No Candomblé, Exú é um dos orixás mais importantes. Depois do Balé , é o primeiro a ser cultuado, sem ele não tem festa, não tem obrigação, não tem nada, pois ele é o grande mensageiro. É o elo dos orixás com o ser humano, sem ele não poderíamos entrar neste mundo divino! Na Umbanda, exú é um Egum em evolução, que muitos utilizam para fazer maldades.

Léo: Tem algumas divindades que não são muito conhecidas, você poderia falar sobre algumas delas:

  • Obatalá

Iya Senzaruban: É o Deus que representa o céu do nosso Planeta e Odudua é a mãe Terra.

  • Olodumaré

Iya Senzaruban: É o Ser Supremo - o Deus superior

Léo: Explique de que forma Oxalá se desdobra em Novo e Velho

Iya Senzaruban: Oxaguian é filho de Oxalufan e Nanã, mas foi criado por Ogum e Oyá. Este orixás são alguns dos pertencentes a família Funfun, ou seja dos deuses dos panos brancos.

Léo: Explique de que forma se desdobram Omolu, Obaluaiê e Xapanã

Iya Senzaruban: São qualidades (tipos) de Obaluaye. Todos os orixás são compostos de qualidades. Há vários tipo de Oguns, Oxoces, Oyas e assim sucessivamente.

Léo: Explique o que é o Amaci?

Iya Senzaruban: Os banhos de descarrego dados no Candomblé, podem ser de duas formas. Como amaci ou abô. Amaci é um banho de ervas frescas. Abô é banho com ervas em decomposição junto com menga (sangue de sacrifício de animais).

Léo: Fale sobre o jogo de Ifá, búzios..

Iya Senzaruban: Ifá é um oráculo africano da qual saiu o jogo de búzios que a maioria conhece. O jogo de búzios é composto de 16 búzios, sendo que cada um é consagrado a um ou mais orixás. É um jogo que tem suas caídas que precisam ser interpretadas com muito apuro e experiencia, pois direcionam o consulente a rumos mais tranquilos para sua vida.

Léo: O que são robi e orobó?

Iya Senzaruban: Obi e orobo são frutos cerimoniais, que também são usados como oráculos.

Léo: E alobaça?

Iya Senzaruban: Alobaça (cebola) é outro recurso utilizado como oráculo.

Léo: Como voce foi apresentada para o Senhor Krsna e tornou-se vegetariana?

Iya Senzaruban: Ah, você não vai acreditar! Numa dos encontros de Buscadores que nós participamos, o da Praia do Gonzaga, (lembra?) um dos rapazes que estavam ali para vender assinatura da revista Planeta, virou para mim e disse vou te dar um presente, pode ser? Eu disse claro, né? rsrsrs E ele me deu um livro chamado Um Presente Inesquecível, que me chamou atenção primeiro para o casal da capa, Krsna e Radha, depois que era o primeiro livro que eu via impresso em papel reciclável. Li e adorei.

A partir daí fui ganhando, é ganhando, nunca comprei um livro sequer, ganhava de mendigos na rua, achei em lata de lixo minha, olha só rsrsrs, enfim até hoje acho e ganho, sou sortuda ou não??? rsrsrs. Já estudava nesta época terapias tidas na época como alternativas como acupuntura, aromaterapia, moxabustão etc.. Aí fui estudar no Sri Lanka e aí sim adentrei no culto a Senhor Krsna e Senhor Shiva.

Bom aí, fiquei numa saia justíssima. Tinha que achar uma saída para não abandonar o Candomblé e também não queria desistir de Krsna. Aí pedi muito ao meu pai Obaluaye que me desse o caminho. Como se sabe Obaluaye e Nanã andaram pela India e aí sabe como é eu apelei rsrsrsrs. Oh meu Pai o senhor que foi um puro devoto do Senhor Shiva me dê uma luz. E Ele deu! A partir daí ele foi me dando caminhos para substituir os animais e os produtos de origem animal. Ih, isto vai dar pano para manga! rsrsrs!Sabe como é, o povo não gosta de mudanças, mas eu respeito o que meu santo determina e pronto.

Léo: Como voce atende atualmente?

Bom, eu além de ser uma Iyalorixá (mãe de santo), sou uma terapeuta, dou atendimentos em acupuntura, aromaterapia, auriculoterapia, cristais, cromoterapia, fitoterapia, florais, geoterapia, massagem terapeutica para adultos, crianças e bebes, moxabustão, nutrição na área de medicina natural.

Nos oráculos: búzios, tarot, runas, horóscopo chines, I Ching.

Estou atendendo atualmente aqui em São Paulo no ESPAÇO e lá também vou estar ministrando alguns cursos: Os orixás e a Natureza, Comidas de Orixás, Amacis Fitoterapia, Ifá, Alimentação Vedica e Vegetarianismo entre outros.

Palavra Final:

Axé bu si fu ó! Okolofé Iya mi Oya ati baba mi Omulú!